Com a morte do papa Francisco no último dia 21 de abril, o mundo volta os olhos ao Vaticano para acompanhar um dos rituais mais emblemáticos da Igreja Católica: o Conclave. A reunião que definirá o novo líder espiritual da Igreja deve começar entre os dias 6 e 11 de maio — mas, nos bastidores, tudo já está em movimento.
Pela regra oficial, o Conclave só pode começar entre o 15º e o 20º dia após a morte de um papa. No entanto, uma norma instituída por Bento XVI em 2013 permite antecipar esse prazo, desde que todos os cardeais eleitores estejam presentes no Vaticano. E é aí que entra o movimento silencioso, porém intenso, nos corredores da Santa Sé: a chegada dos cardeais.
Brasileiros no centro das decisões
Dos 135 cardeais com direito a voto (ou seja, com menos de 80 anos), sete são brasileiros. E todos eles já foram convocados oficialmente. Entre os nomes, figuram figuras de forte atuação nacional e internacional, como Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, visto nos bastidores como um nome sempre lembrado em votações papais, e Dom Paulo Cezar Costa, de Brasília, que tem se destacado pelo perfil diplomático e teológico.
Também estão na lista Dom Orani Tempesta (Rio de Janeiro), Dom Sérgio da Rocha (Salvador), Dom Jaime Spengler (Porto Alegre), Dom João Braz de Aviz (arcebispo emérito de Brasília) e Dom Leonardo Steiner (Manaus). Juntos, esses nomes representam uma Igreja brasileira que transita entre o conservadorismo pastoral e o apelo por uma presença mais forte da América Latina nas decisões do Vaticano.
Silêncio absoluto e decisões complexas
O Conclave acontece na Capela Sistina — sim, exatamente sob os afrescos de Michelangelo —, onde os cardeais eleitores ficam completamente isolados do mundo exterior. Eles são levados para uma área conhecida como “Domus Sanctae Marthae”, um alojamento dentro do Vaticano, e de lá seguem diretamente para a Capela em horários estabelecidos.
Tudo é pensado para que não haja qualquer tipo de influência externa: celulares são proibidos, e os cardeais fazem um juramento de segredo absoluto sobre todo o processo. As votações acontecem em cédulas de papel, colocadas uma a uma na urna. Após cada rodada, as cédulas são queimadas com substâncias que indicam o resultado: fumaça preta (nenhum eleito) ou branca (temos um papa!).
Até quatro votações podem ser feitas por dia. Se, após três dias, não houver consenso, uma pausa de oração é convocada. Se, mesmo após 34 votações, a Igreja seguir sem papa, os dois mais votados entram em uma rodada decisiva — o chamado “segundo turno” —, mas ainda precisam atingir dois terços dos votos para vencer.
O clima no Vaticano
Fontes ouvidas por veículos italianos revelam que o clima dentro do Colégio Cardinalício é de união, mas também de cautela. Após um papado marcado por reformas e pela tentativa de modernizar a Igreja, muitos cardeais esperam agora um nome que dê continuidade às diretrizes de Francisco, sem abrir mão da tradição.
O perfil do futuro papa é, como sempre, cercado de especulações. O nome de um papa africano volta a ganhar força, mas a ala latino-americana ainda tem representatividade e respeito dentro da Igreja. A ala europeia, especialmente italiana, também se articula discretamente.
Um Conclave sob os olhos do mundo
A Santa Sé prorrogou até o fim de maio as credenciais da imprensa estrangeira, e os grandes grupos de comunicação já montam estruturas próximas ao Vaticano. Enquanto isso, o público católico aguarda pela fumaça branca que anunciará o novo pontífice.
A expectativa é de que o Conclave deste ano seja breve — como foram os de Francisco (2013) e Bento XVI (2005), ambos encerrados em dois dias. Mas em tempos de tensões geopolíticas e transformações sociais, a escolha do novo papa pode trazer muito mais que um novo rosto à liderança da Igreja — pode indicar o rumo que o catolicismo seguirá nas próximas décadas.